«Uma filosofia que não inclua a possibilidade de fazer adivinhações com grãos de café e não consiga explicar isso, não pode ser uma verdadeira filosofia» (G. Scholem) |
Cibercultura-As figurações maquínicas do Humano (working paper)
T.S.Eliot, «Experiment in Criticism» (1929)
§ 1. Um dos fenómenos mais marcantes da experiência da nossa contemporaneidade é, sem dúvida, a convergência entre a Cultura e a Técnica, bem como o próprio ‘hibridismo’ entre os vários dispositivos técnicos. Se é certo que este fenómeno, de algum modo, se iniciou no séc. XIX com a invenção do registo fixo de imagem pela fotografia, do som e da voz pelo gramofone e da imagem em movimento pelo cinema, bem como de outras tecnologias analógicas, contudo, a grande novidade dá-se com a epifania inteiramente técnica da Internet, da imagem digital, etc., bem como, sobretudo, a possibilidade de tradução desse analógico em binário e digital e a criação de interfaces fazendo convergir (‘hibridamente’) esse ‘real’ ao ‘digital’.
Descrita de vários modos («cultura electrónica», «cultura das redes», «cultura digital», etc.), a Cibercultura emerge associada a esse tipo de convergência e ‘hibridismo’, conceito fundamental (e fundante) da actual experiência dos médias. A variedade de nomes com que este fenómeno é designado, só por si, demonstra bem que se está perante fenómenos que excedem as categorias com que o pensamento Moderno pensava a Cultura e o Mundo. As tecnologias digitais, ao acelerarem tudo, não só tornam tudo mais rápido, como acabam por alterá-las.