«Uma filosofia que não inclua a possibilidade de fazer adivinhações com grãos de café e não consiga explicar isso, não pode ser uma verdadeira filosofia» (G. Scholem) |
A Arte de jardinar o roseiral: Cartografia (metodológica) de edição dos textos Esotéricos e Herméticos de Fernando Pessoa
[in Alda Correia, Gabriela Fragoso, Fernando Ribeiro e Manuel Canaveira (coordenação), A Arte da Cultura: Homenagem a Yvette Centeno, Actas do Colóquio Internacional «A Arte da Cultura: Silêncios - Símbolos - Máscaras», em homenagem à Professora Doutora Yvette Kace Centeno (Universidade Nova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa - 19, 20 e 21 de Novembro de 2008), Lisboa: Edições Colibri, pp. 391-402 ISBN 978-989-689-068-1]
em homenagem Amiga
In Memoriam
A minha Mãe
A Luciana Stegagno Picchio
«O roseiral da sabedoria tem abundância de várias flores,
mas o portão está sempre fechado com trancas poderosas;
só há no mundo uma coisa de pouco valor que lhe serve de chave.
Sem esta chave andarás como alguém sem pernas... »
(Michael Meier, Atalanta Fugiens, Emblema XXVII)
«Transformar a selva em jardim,
eis a missão de que estamos incumbidos»
(Gustav Meyrink)
«Dir-se-ia que está organizado
como um enorme tabuleiro de xadrez - disse Alice por fim.»
L. Carroll
Uma das questões essenciais que envolve o pensamento e obras pessoanas é, sem dúvida, a que se refere ao modo como se processa (e deve processar) a recolha, organização e transcrição de todos os materiais, independentemente dos projectos de que se estiver a falar. A simples resposta a esta questão acaba por modelar e figurar o que é e não é o corpus da sua obra e do seu pensamento. Evidentemente, este problema não se coloca só a respeito da obra de Fernando Pessoa, abrangendo todos os autores e obras póstumas. Trata-se, simultaneamente, duma questão teórica e técnica, passando pela própria noção de «obra» (onde começa? Onde acaba?).
Para levar a bom porto tal tarefa de «transformar a selva em jardim» (G. Meyrink), várias poderão ser as soluções possíveis de adoptar a respeito da ordenação dos seus textos, qualquer delas, com virtualidades e defeitos.
No entanto, pensamos (como já várias vezes o demonstrámos) que só a aplicação de uma metodologia de recolha e cruzamento das várias intenções referentes aos vários projectos, captando os seus vários planos de escrita e de (eventual) publicação, também existentes a respeito dos textos esotéricos e herméticos de Fernando Pessoa, será capaz de captar a sua "respiração" ou, como escreveu Goethe a Zeller numa carta de 1804, de os "agarrar em voo, em estado nascente podendo-se concluir com aquelas sábias palavras (que sempre nos surgem no espírito nestas alturas) de uma das personagens de um dos escritos de A. Conan Doyle:
- Se o descobri foi porque o procurava.
- Como? Esperava mesmo encontrá-lo?
- Acreditei que não era improvável.