«Uma filosofia que não inclua a possibilidade de fazer adivinhações com grãos de café e não consiga explicar isso, não pode ser uma verdadeira filosofia» (G. Scholem) |
Edição crítica, hipertexto e biblioteca electrónica: Dêem um modem a Fernando Pessoa
(texto-base da comunicação ao I Congresso de Ciências da Comunicação, SOPCOM-Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Fundação Calouste Gulbenkian (em 22 de Março de 1999), publicado nas respectivas Actas in As Ciências da Comunicação na Viragem do Século, Lisboa, Vega, 2002, pp.222-228 (reedição em Hermes ou a Experiência da Mediação (Comunicação, Cultura e Tecnologias), Lisboa, Pedra de Roseta, 2004, pp.109-119)
All writing is technology.
Tarling
After the technologists come the theoreticians
Friedrich A. Kittler
Após a invenção, e consequente desenvolvimento, da tecnologia digital nos meados do século, ficou claro que novos horizontes se abriam à tecnologia textual, potencialmente mais flexível e poderosa que qualquer outra existente até aí. A tecnologia multimédia aplicada à «Galáxia de Gutenberg» arrastou consigo uma nova utopia literária designada de «hipertextualidade». Os novos sistemas digitais de recolha de informação (databases) implicaram a necessidade de se encarar novos modos de conceber e usar o material textual, passando por uma redefinição de conceitos como os de cartografia e de mapeamento .
No momento em que, sobretudo desde os finais dos anos 80 e princípios dos 90, nos confrontamos com a problemática da edição crítica-genética aplicada à organização e edição dos espólios (sobretudo modernos e contemporâneos e, em especial, da Babel pessoana), trata- se de averiguar de que modo estas novas tecnologias possibilitam uma mais correcta edição desse «fragmentarismo sistemático» , fazendo coincidir o exame laboratorial das fontes materiais com o acesso «interseccionado» e interactivo a um sistema multilinear e não- sequencial (à distância de um «clique»....), quer à transparência do fragmento original (nomeadamente, com a inclusão, em sistema hipermedia, de uma imagem do suporte original), quer a uma vasta rede de nós com informações contextualizantes (aparatos, índices, bibliografias, depoimentos, dados biográficos, etc.).
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