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Elementos para uma genealogia das ligações

Miranda, José Bragança de

«Todas as coisas estão ligadas, quer
vejamos as conexões ou não».
«Acaso e coincidência são os termos
que utilizamos para indicar
ligações invisíveis entre as coisas –
relações que não compreendemos».
Clarence John Laughlin


1. 1. A prioridade das ligações
A experiência deve ser considerada como um continuum de
fragmentos, dispersões, pedaços, cuja união tem algo de enigmático.
Tratou-se, com efeito, de um ganho decisivo, do ponto de vista histórico, o criar o particular e procurar esquecê-lo, tudo inserindo numa imagem da totalidade, imago mundi ou «alma do mundo». Com a modernidade, estas imagens da totalidade entram em crise e os fragmentos reaparecem. O particular torna-se injustificado. Num momento culminante da modernidade, dizia Baudelaire: «Um artista que tenha o sentimento perfeito da forma, mas que se tenha acostumado a exercer sobretudo a sua memória e a sua imaginação, encontra-se então assaltado por uma avalanche de detalhes, pedindo todos eles justiça, com a fúria de uma multidão apaixonada pela igualdade absoluta». Responsabilidade terrível, esta, que surge no mais pequeno passeio pela cidade, a que os artistas respondem através de uma selecção rigorosa, e a que as teorias simulam responder através de uma mnemotécnica que nada deixaria de fora. De facto, as teorias pretendem ser o fio de Ariadne que rectifica, perfila e enfileira toda a experiência. O problema é que elas fazem parte desse próprio continuum de que se destacam, sim, mas ilusoriamente.

Ensaio

2010-02-28

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